Segmentação do enredo
1 - Egito - Origem ao banho
Os primeiros registros do ato de se banhar individualmente ocorreram por volta de 3.000 a.C, e pertencem ao antigo Egito. Os egípcios realizavam rituais sagrados na água e banhavam-se diariamente, dedicando os banhos a divindidades como Thot e Bes.
Thot era o Deus do conhecimento, da sabedoria, da escrita e da medicina, considerado a melhor divindade para cuidar das pessoas que se banhavam. Depois dele, vinha Bes, o deus da fertilidade e do casamento, que cuidava do parte e do banho das crianças e mulheres.
Mais do que limpar o corpo, os egípcios presumiam que a água purificava a alma, e esta crença era válida tanto para a realeza cortejada com óleos aromáticos e massagens aplicadas pelos escravos, quanto para as populações mais pobres, que recorriam inclusive a profissionais de rua quando não conseguiam tratar da própria beleza. Os egípcios foram os inventores dos primeiros cosméticos.
2 - Termas - Luxúria líquida babilônia, turcos, grego e romanos
A Grécia foi um dos locais em que o banho prosperou, sendo possível encontrar bem preservados palácios de 1700 aC a 1200 aC que, mesmo nos dias atuais, surpreendem devido a avançadas técnicas de distribuição da água. Afirma-se que naquela época, os banquetes precisavam ser luxuosos e incluíam uma sessão de banho para os convidados.
Na Grécia, o banho também era uma extensão necessária da prática de ginástica, e comumente os gregos antigos invocavam a proteção de Hera, a mulher de Zeus (também conhecida como Deus Juno), durante o banho.
Os gregos tomavam banhos por prazer e para ter uma vida saudável, motivados pela higiene, espiritualidade e práticas desportivas, sendo que os médicos louvavam as virtudes ocasionadas em função dos diferentes tipos de banho, aconselhando o uso de óleos na água para untar o corpo antes de as pessoas se secarem.
Embora os gregos tenham iniciado a prática dos banhos públicos no Ocidente, os pioneiros nos balneários coletivos foram os babilônios. Materiais saponificantes anteriores a 2800 aC foram encontrados em cilindros escavados nas ruínas da antiga Babilônia. As inscrições indicam que aquele material era utilizado para a limpeza dos cabelos e para auxiliar na confecção de penteados.Por volta de 650 aC a cidade da Babilônia, na Mesopotâmia, tornou-se o centro de comercial de especiarias e perfumes de época.
Já no século II aC, os romanos construíram enormes complexos de banho para homens, sendo que os romanos foram o povo da Antiguidade que mais se importaram em transformar o banho num evento, construindo suntuosas termas públicas onde qualquer cidadão pudesse desfrutar dos prazeres proporcionados pelo banho. O banho referia-se à idéia de repouso e de convívio, pois era uma prática social e um ritual simbólico.
Os romanos herdaram muito da cultura grega, incluindo a adoração pelo banho. Porém, entre eles, esse hábito adquiriu proporções inéditas. As visitas diárias às termas tinham fundo religioso, visto que o banho público era um ato de adoração à deusa Minerva.
Os romanos consideravam Minerva, a deusa do comércio, da educação, e do vigor, especialmente bem dotada para cuidar do banho. Fortuna, a deusa do destino, também era representada nas casas de banho para proteger as pessoas quando estavam mais vulneráveis. Além disso, havia incontáveis ninfas e espíritos associados a fontes e poços locais, venerados como guardiões do banho.
E o costume não era restrito somente às classes mais abastadas: boêmios, prostitutas, imperadores, filósofos, políticos, velhos e crianças, todos se banhavam no mesmo espaço, sem constrangimento.
Os gregos e os romanos mantiveram o hábito de reunir-se em banhos públicos, que se tornaram em verdadeiros locais de discussões e decisões políticas e sociais. As termas eram um ponto de encontro e de troca de informações, que se tornaram símbolos de luxo e, muitas vezes, das decadências dos costumes.
Os romanos e os gregos precursores de sistemas hidráulicos que canalizavam águas pluviais e fluviais, conduzindo-as para as residências e termas fizeram do banho um ritual de luxo e influenciaram o mundo com suas criações de óleos, ungüentos e maneiras prazerosas de banhar-se.
Os árabes não só compreendiam e apreciavam os prazeres dos perfumes, mas também possuíam conhecimentos avançados de higiene e medicina. Muitos celebrados por suas maravilhosas descobertas, eles ofereceram à humanidade o primeiro alambique, e a partir desta invenção foi possível destilar as matérias-primas e preparar a primeira água de rosas do mundo, isolando o perfume de pétalas em forma de óleo.
Associar os famosos banhos turcos a rituais amorosos é uma das primeiras reações dos ocidentais ao imaginar as sofisticadas casas dos muçulmanos. O hamman, a cerimônia islâmica do banho, estimulava a imaginação dos europeus, ao descrever dezenas de belas mulheres se banhando e se embelezando em um ambiente ricamente ornamentado.Mas o hamman supera essa carga erótica. É um preceito da fé islâmica lavar e perfumar o corpo para a oração. E os banhos em conjunto, demorados, são a melhor maneira de se purificar para a prece. O hamman serve, então, como meditação entre os pecados do corpo e a limpeza do espírito.
Na Europa, somente no século XVII houve a introdução das casas de saunas e banhos turcos.
3 - Idade Média - Proibição ao banho
Durante a Idade Média, os ocidentais abandonaram os sofisticados rituais de limpeza da Antiguidade e mergulharam numa profunda sujeira. A maneira de ver o banho mudou. As idéias religiosas foram levadas ao exagero e as saunas passaram a ser consideradas locais de pecado, porque as pessoas se viam nuas umas às outras.
Não é exagero afirmar que a Idade Média foi o período em que a cristandade varreu da Europa as termas e demais atividades em que as pessoas se expusessem demais. Com tantos pudores, o prazer de tomar banho de corpo inteiro passou a ser visto como um ato de luxúria. Lavar as mãos e o rosto bastava, às vezes nem isso. Quando muito, era aceitável tomar um banho por ano.
Os banhos foram totalmente proibidos, aumentando as doenças, em especial, a peste. Dizia-se que a água amolecia a alma. Dizia-se ainda, que o fato de a água quente dilatar os poros da pele facilitava a entrada de doenças no corpo. Desta forma, nesta época, a higiene basicamente resumia-se em vestir uma roupa limpa e usá-la até ficar suja, pois acreditava-se que a roupa funcionava como uma espécie de esponja absorvendo a sujeira. Sendo que muitas vezes a roupa sequer era lavada, apenas sacudida e carregada de perfume.
Os banhos eram escassos, quase inexistentes. Em famílias pobres, quando eles aconteciam, a água servia para banhar a família inteira em uma tina. Primeiro os homens, depois os filhos e por último as mulheres.
A Idade Média foi muito apropriadamente chamada de Idade das Trevas, protagonizando o total sepultamento dos hábitos de higiene. A Igreja, poder políticos e cultural absoluto, abominava os banhos, tratando-os como Orgias Pecaminosas.
Iniciou-se um período de imundice com conseqüências desastrosas para a Europa. Segundo os sanitaristas, as constantes epidemias que assolaram o Velho Mundo durante a Idade Média foram provenientes da total ausência de higiene por parte da população. As necessidades fisiológicas eram despejadas pelas janelas.
Esta alta de asseio pessoal, aliada às condições de vida insalubres, contribuíram sobremaneira para as grandes epidemias da Idade Média e, em especial, para a Peste Negra do século XIV.
Com os grandes surtos epidêmicos instala-se a convicção de que a água, por efeito da pressão e sobretudo do calor, abria os poros e tornava o corpo receptivo à entrada de todos os males.
Desde o século XV, os médicos condenavam a utilização dos balneários públicos e das estufas. Defendiam a teoria que, depois do banho, a carne e o hábito do corpo amolecem e os poros abrem-se, e assim, o vapor empestado pode entrar prontamente no corpo e provocar a morte súbita.
A ideologia cristã instaurou preconceitos e impôs uma nova moral e conseqüentes novos costumes. A Igreja temia pela sujidade das almas, pois os hábitos promíscuos eram uma porta aberta para o pecado. Havia assim, que se evitar os banhos públicos, locais propícios à devassidão e ao amolecimento dos costumes.
4 - Renascimento - Dos maus odores ao banho de civilização
No século XIII, frades dominicanos iniciaram as atividades farmacêuticas relativas à produção de essências, pomadas, bálsamos e outras preparações medicinais. Muitas dessas fórmulas, produzidas até os dias de hoje, foram estudadas durante a corte de Catarina de Médici, nobre florentina que mudou para a França em 1533 para se casar com o Rei Henrique II.
Os perfumes de Catarina de Médici eram feitos em Grasse, uma pequena cidade ao sul da França, localizada aos pés dos Alpes mediterrâneos. Grasse era então um centro da indústria de couro e, até aquele momento, não existia nenhum produto para limpar e perfumar o couro, especialmente o das delicadas luvas das senhoras.
Desenvolveu-se, então, uma arte refinada, tarefa dos maîtres gantier perfumeurs, mestres perfumistas de luvas, que prosperaram em torno de Grasse.
Aos poucos, a era das águas perfumadas com flores foi cedendo espaço a composições à base de almíscar. A preocupação com a higiene e os cuidados com o corpo permanecia. Também se considerava importante o cultivo de jardins, capazes de repelir os odores pestilentos comuns na época.
Diz-se que Luis XIV, o Rei Sol, era muito sensível a odores, e tinha um perfume para cada dia da semana. Em sua corte, rosas e flores de laranjeira eram usadas para perfumar luvas, e os sabonetes de óleo de oliva faziam parte da higiene diária. As fragâncias apreciadas por Luis XIV eram produzidas no sul da França.
No Renascimento, a idéia de manter o corpo limpo foi abandonada e os banhos de água foram substituídos por banhos com fortes perfumes e essências, sendo Catarina de Médici, a grande responsável pela difusão do perfume na França.
A formentação da expansão marítima conduz os europeus ao descobrimento de novas terras, denominadas de Novo Mundo, e a realidade da Europa (O Velho Mundo) mostrava-se paradoxal aos costumes demonstrados pelos habitantes dos territórios localizados na atual América do Sul.
A chegada dos brancos impressionou aos índios, devido à aparência suja e grotesca dos europeus, chamados de mal cheirosos e porcos. Observando os hábitos dos indignas, nativos das terras recém-descobertas, os europeus aprenderam diversos conhecimentos sobre limpeza e higiene, pois era comum e freqüentemente os naturais banharem-se em rios, lagos, lagoas e cachoeiras. De modo que os indígenas em muito contribuíram para o progresso nos costumes dos europeus, promovendo um verdadeiro banho de civilização.
5 - Corte da França - Banho de cheiro disfarçando a sujeira
A fundação da primeira boutique de perfumes em Paris impulsionou a produção e a comercialização de produtos aromáticos. A opulência, o esplendor, a extravagância e o refinamento surgiam nas famílias aristocratas e dominavam a corte européia.
A moda dos banhos estimulou a difusão dos perfumes por toda a Europa. A corte perfumada, fiel ao estilo Rococó, bem como toda a nobreza francesa, habitualmente se utilizavam de bálsamos e perfumes - nas roupas, nos corpos, e nos cabelos - para disfarçar a sujeira amenizar o mau cheio.
6 - Pasteur - Corpo limpo, corpo são
Louis Pasteur (1822 - 1895) foi um cientista francês que fez descobertas que tiveram grande importância tanto na área de química como na medicina.
O conceito de higiene surge apenas no século XIX, depois das descobertas de Pasteur e dos seus trabalhos sobre a importância da higiene na saúde. Assim, os hospitais e outros locais de contato com doenças passaram a ser limpos regularmente. Cabe frisar que as noções de assepsia por ele implantadas no âmbito da medicina foram fundamentais para que muitas vidas se salvassem.
Constante defensor da adoção de medidas profiláticas para evitar doenças contagiosas causadas por agentes externos, realizou uma obra científica notável, que não só abriu caminhos aos estudos sobre a origem da vida, como contribuiu de forma decisiva para a evolução da indústria. Sua contribuição foi essencial ainda na evolução da medicina preventiva, dos métodos cirúrgicos (com a prevenção das infecções), das técnicas de obstetrícia e dos hábitos de higiene.
Em Paris, criou o primeiro Instituto Pasteur (1888) que se tornou um dos mais importantes centros mundiais de pesquisa científica, com filiais em vários países, inclusive no Brasil (Rio de Janeiro).
7 - O banho vira moda: de sol, de lua, de gato, de loja e de cheiro. Dançando na chuva e cantando no chuveiro
Ao longo da História, o banho já foi considerado sagrado e profano, artigo de luxo e diversão das massas, receita de saúde e até causador de doenças e mortes. Este ritual, tal como o conhecemos hoje, é resultado de uma mescla dos costumes de diferentes povos ao longo dos tempos.
Atualmente, o banho é associado ao cuidado com a pele e ao bem-estar em todo o mundo. Além de deixar o corpo limpo e cheiroso, as composições dos sabonetes, sais e óleos são enriquecidos com essências que podem transmitir sensações diferentes como relaxamento ou vigor que, associados às diferentes temperaturas da água, têm seu efeito potencializado.
Ou seja: refrescar, seduzir, relaxar e estimular são apenas algumas das variadas finalidades dos mais diferentes tipos de banho, que propiciam vastos benefícios para o corpo e para a mente das pessoas.
Muitas são as delícias que esta experiência é capaz de proporcionar; são efeitos estimulantes, afrodisíacos e relaxantes, dentre outros. Com isso, o banho terminantemente virou moda: no chuveiro, em banheiras, e ofurôs. Banho de cheiro, de sol e de sais, de mar e de piscina; banho de cachoeira e banho de lua, banho de loja e banho de gato; dançando na chuva, cantando no chuveiro!
8 - Quem banha o corpo, lava a alma - banho dos orixás
Os rituais de diferentes tipos de banho também são práticas religiosas, uma vez que o ato de banhar-se foi e ainda é visto em muitas religiões como um rito de purificação do corpo e da alma. Tal fato é observável no espiritismo, por exemplo, pois acredita-se que quem banha o corpo, lava a alma, afastando as energias negativas e atraindo a positividade.
Os banhos de cunho litúrgico podem ter finalidades diversas, defesa, sacudimento, defumação, cura, regeneração, elevação espiritual, auxílio no desenvolvimento de novos médiuns.A bênção e a proteção dos orixás abrem os caminhos através de sessões de descarrego, limpeza da aura, energização e purificação; com a utilização, inclusive, de utensílios tais como a pipoca, ervas e sal grosso, dentre outros.
No Brasil, país onde grande parte da população é praticante do sincretismo religioso, tais práticas afro-descendente são bastante usuais.